

Ligia Minami
Educadora, artista visual e fotógrafa, doutoranda em Poéticas Visuais pela Unicamp, mestre em Artes Visuais pela Unicamp (2018) e graduada em Fotografia pelo Centro Universitário Senac (2012). Sua pesquisa aborda as questões do tempo e seu entrelaçamento com a memória, com ênfase no uso da fotografia e processos de impressão artesanal do século XIX (cianótipo, vandyke brown, goma bicromatada), destacando sua interação com tecnologias digitais em processos criativos contemporâneos. Atua como freelancer nas áreas de fotografia e design gráfico (ligiaminami.format.com) e desde 2019 como educadora no Espaço de Tecnologia e Artes do SESC.
A imersão no contato com a natureza e sua relação com a memória é uma constante em minha pesquisa. Na coleta e impressão de corpos vegetais, a busca por texturas, representadas na impressão por contato, traz um esforço de perenidade ao dar forma à impermanência percebida na contemplação desse entorno, repleto de folhas secas, fraturadas ou carcomidas.
Na mistura de técnicas gráficas como a monotipia e a xilogravura, e fotográficas, como a cianotipia, há uma espécie de recriação do universo natural experimentado.
A presença do substrato têxtil, estabelece o diálogo da textura do que é impresso com a trama dos tecidos – ásperos, macios, leves, pesados, opacos, translúcidos – permitindo que o contato da impressão se amplie para o contato com a pele, na confecção de bandeiras ou vestíveis, que pedem para ser tocados ou ocupados, numa apreciação tátil, somada à visual.
A impressão por contato é ferramenta que permite o encontro entre superfícies: o que toca e o que é tocado, o que deixa o seu rastro e a superfície que recebe essa imagem, como no encontro entre duas peles em diferentes tempos – a pele ausente que ali esteve e a pele impressa, carregada da memória do corpo que já não está mais lá, mas que persiste em imagem, é presente pela lembrança que sua impressão evoca.
Através da impressão, essas peles têxteis são portadoras de memórias de lugares, eventos e pessoas, em impressões que podem soar como cicatrizes. Ao criar, tocar ou mesmo vestir essas peles têxteis marcadas por rastros, estabeleço relações com a memória dos diferentes tempos vivenciados.
Usando as águas, o sol e os diferentes corpos coletados durante esses processos de impressão, a recorrência da memória das sensações experimentadas durante o fazer vem à tona – tecidos que carregam a textura e o cheiro de uma folha, o calor do toque do sol, a fluidez da água num mergulho.
Nestes trabalhos, a impressão se converte numa forma particular de tradução: materializar e tornar visível, o intangível e o invisível presente nessas lembranças, numa espécie de cultivo de jardins de memórias.
ligiaminami.format.com



















